O artigo “Fundão tailings dam failures: the environment tragedy of the largest technological disaster of Brazilian mining in global context” (Falhas na barragem de rejeitos do Fundão: a tragédia ambiental do maior desastre tecnológico da mineração brasileira em um contexto global, em português), escrito pelo Instituto Prístino e colaboradores em 2016 e publicado na revista PECON – Perspectives in Ecology and Conservation em 2017 é, atualmente, o artigo mais citado do periódico segundo o Scopus, o maior banco de dados de resumos e citações da literatura com revisão por pares.Escrito um ano após o rompimento da barragem de Fundão em Mariana, Minas Gerais, o artigo traz uma caracterização da barragem e suas falhas estruturais e operacionais que levaram ao que é considerado hoje o maior desastre ambiental com barragens de rejeito da História.
Passados mais de três anos e meio, as palavras-chave associadas ao rompimento da barragem de Fundão em Mariana continuam em alta tanto entre notícias, imagens e vídeos difundidos na internet quanto nas pesquisas dos usuários (mais de 1.000 postagens somente em 2019, segundo o Google). Este mesmo cenário também é observado entre os pesquisadores brasileiros. Em consulta ao Google Acadêmico, foram apresentadas mais de 130 publicações científicas para o mesmo período.
Além disso, pode-se inferir que existe uma tendência para as abordagens e reflexões sobre o desastre de Fundão continuarem sem prazo para finalizar, uma vez que os danos ainda estão sendo investigados. Com o recente rompimento de barragem B1 na Mina Córrego do Feijão em Brumadinho, o cenário preocupante envolvendo barragens com alto risco estrutural no país voltou a ser o centro das discussões.
Em entrevista ao Jornal da Unicamp, a cientista social Olga Rodrigues de Moraes von Simson falou sobre a importância de manter a discussão sobre esses acontecimentos: “O fato de essa tragédia estar registrada e acessível é fundamental para que conquistas legislativas e melhores garantias para a proteção do meio ambiente possam acontecer. A mídia e os pesquisadores que trabalham com a temática ambiental e os danos ocorridos na região precisam saber que também estão contribuindo para isso”.
Leia o artigo do Instituto Prístino na íntegra (Em inglês)
Leia a entrevista da professora Olga Rodrigues de Moraes von Simson para o jornal Unicamp
Resumo do artigo em Português:
Após o rompimento da barragem de Fundão, 43 milhões de m³ de rejeito de minério de ferro continuam causando danos ambientais, poluindo 668 km de cursos d’água da bacia do Rio Doce até o Oceano Atlântico. Os objetivos deste estudo são o de caracterizar a barragem de rejeitos de Fundão e as falhas estruturais; compreender a escala do desastre e avaliar o maior desastre tecnológico no contexto global sobre rompimentos de barragens de rejeitos. O colapso de Fundão foi o maior desastre ambiental do setor de mineração mundial, tanto em termos de volume de rejeitos despejados quanto da magnitude do dano. Mais de um ano após a tragédia, a Samarco ainda não realizou a remoção, o monitoramento ou o descarte adequado dos rejeitos, contrariando a premissa de se realizar a remoção total dos rejeitos a partir das diretrizes propostas pelas agências reguladoras do país e pela literatura mundial sobre pós-gestão de desastres. Ao contrário das expectativas, houve um recuo nas normas ambientais, como a flexibilização da legislação, a diminuição de recursos financeiros aos órgãos reguladores e a ausência de medidas efetivas para recuperação ambiental. É urgente revisar a forma como a atividade de extração mineral em grande escala é realizada, os padrões técnicos e ambientais envolvidos e a supervisão e o monitoramento das estruturas associadas à atividade da mineração.