O Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi – Série Ciências Humanas publicou, em sua edição de janeiro a abril de 2020, o artigo científico elaborado em colaboração com os pesquisadores da UNIVASF, da UFMG e do Instituto Prístino. O artigo traz uma série de estudos de caso que embasam a proposição de uma nova abordagem para o estudo de pinturas e gravuras rupestres pré-históricas. Os estudos de caso apresentados se desenvolveram em sítios arqueológicos que contém arte rupestre no estado de Minas Gerais, nas regiões do Vale do Rio Peruaçu, Montalvânia, Diamantina e Jequitaí.
O artigo demonstra como a maior parte das pesquisas sobre a arte rupestre no Brasil enfocam basicamente a forma das figuras e não o modo como teriam sido feitas/produzidas. Estudos realizados por antropólogos e etnólogos em grupos indígenas contemporâneos demonstram que, em muitos casos, o ato de desenhar ou produzir algo costuma ser mais importante para seus autores, do que a forma final produzida. Em termos teóricos, a fenomenologia e a ecologia da percepção trazem contribuições importantes para se compreender as distintas formas de fazer como caminho para evidenciar as relações estabelecidas entre os distintos agentes envolvidos no ato de pintar ou gravar durante a pré-história.
“(…) os processos perceptivos e gestuais de atuação no mundo e com o mundo se desenvolvem a partir das experiências adquiridas pelos seres em uma prática de duplo engajamento entre elementos que compõem o mundo em questão. Para Gibson (1979), um organismo (ser vivo) não existe sem o seu ambiente, e vice-versa, sendo, assim, um transcurso relacional constante. Assim, adquirir conhecimento tem a ver com a prática. Estar no mundo, agir no mundo, se relacionar, é o caminho que faz com que as pessoas percebam e conheçam seu ambiente.” (Linke, et al 2020. p.3)
O Fazer
Em termos simples, a sequência de ações de aplicação de tinta ao pintar, por exemplo, é o que confere sentido à coisa pintada e esclarece os repertórios corporais dos autores envolvidos em sua produção, e não a forma observável, exclusivamente. Por este motivo, as análises constantes no artigo enfocam o estudo de pinturas e gravuras rupestres do ponto de vista do modo como foram feitos, e não da análise da forma física “final” alcançada.
Buscou-se demonstrar uma série de escolhas e atitudes tomadas pelos autores de figuras rupestres do norte mineiro, tomando o “traço” como unidade de análise, a fim de verificar conjuntos de gestos repetida ou singularmente aplicados durante a realização de cada figura. Como exemplo, destaca-se abaixo o processo de produção de figuras que tem forma de animais (zoomórficas). As letras indicam a sequência de realização de cada traço e demonstram uma série de escolhas técnicas, gestos e movimentos corporais que revelam que a forma final é uma consequência dessas escolhas e do conjunto de técnicas necessárias para sua execução.
Os dados sobre os gestos envolvidos na produção da Arte Rupestre da Lapa do Sol de Jequitaí, obtidos em pesquisa do Instituto Prístino, levantaram a hipótese de que as séries de gestos empregados em um determinado momento cronológico das pinturas rupestres constituem blocos gestuais recorrentes, justapostos e/ou sobrepostos entre si para a realização de cada figura. Ou seja, uma figura é composta por séries gestuais semelhantes, sendo a forma, resultado do sequenciamento destas séries. Isto está sintetizado na figura a seguir:
Para conhecer melhor a proposta teórico metodológica e verificar em quais sítios buscou-se aplicar esta nova abordagem, acesse o site da revista e leia o artigo:
http://editora.museu-goeldi.br/bh/artigos/chv15n1_2020/fazer(linke).pdf
Referência bibliográfica do artigo:
Linke, V., Alcantara, H., Isnardis, A., Tobias Júnior, R., & Baldoni, R. (2020). Do fazer a arte rupestre: reflexões sobre os modos de composição de figuras e painéis gráficos rupestres de Minas Gerais, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 15(1), e20190017. doi: 10.1590/2178-2547-BGOELDI-2019-0017