O Vale do Rio Peixe Bravo é uma região com características ambientais relevantes para a conservação e preservação de ecossistemas naturais e do patrimônio cultural. As pesquisas científicas conduzidas pelo Instituto Prístino, iniciadas desde 2010, revelaram uma grande riqueza em seu Patrimônio Espeleológico e Arqueológico (Carmo et al., 2011a; Carmo, 2011b; Carmo, 2012; Carmo et al., 2015; Carmo et al., 2017, Tobias Jr. 2017).
Até dezembro de 2018, nas áreas do geossistema ferruginoso do Vale do Rio Peixe Bravo, havia 33 cavidades registradas no Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas (CANIE). A maior parte destas cavernas foi identificada em pesquisas do Instituto Prístino (Figura 1).
Como se pode observar na Figura 2, antes do início da execução do projeto de prospecção de 2019 havia diversas áreas sem cavidades registradas ao longo do Geossistema Ferruginoso do Vale do Rio Peixe Bravo, o que foi o mote para a ampliação das pesquisas na região. Muitas destas lacunas são resultado da ausência de estudo espeleológico e/ou de registro de cavidades.
A construção de uma amostra mais ampla e diversificada do ponto de vista geoambiental é fundamental para tecer uma compreensão minimamente baseada em dados primários acerca do potencial de formação de cavidades em litotipos ferruginosos – particularmente o metadiamictito ferruginoso – existentes na região.
Em 2019, tivemos como objetivo geral, ampliar a amostra de abrigos, cavidades e de sítios arqueológicos neles inseridos. Para alcançar os objetivos, ampliamos a amostra de áreas percorridas por meio da realização de percursos a pé em áreas sem registros prévios de cavidades, selecionadas conforme distribuição amostral necessária ao estabelecimento da representatividade das feições de interesse na área da pesquisa (ver figura a seguir). Nestes locais, sempre que possível, foram realizadas entrevistas com moradores locais a fim de obter informações orais acerca da existência de feições espeleológicas.
Resultados alcançados
Durante as prospecções realizadas no ano de 2019 no âmbito do projeto, foi possível realizar o registro de novas feições espeleológicas no geossistema ferruginoso e ampliar a sua área de ocorrência.
Foram caracterizadas na região mais 9 (nove) cavidades naturais subterrâneas, sendo que 3 (três) foram caracterizadas também como paleotocas. Veja fotos de algumas cavernas nas figuras 4 a 7. Foram identificados 14 abrigos. Os nomes das cavernas e abrigos caracterizados, a sua altitude e a área em que se localizam podem ser encontrados na tabela a seguir. A Figura 8 indica a localização das cavernas e abrigos na região. Além disso, também foram caracterizados dois novos sítios arqueológicos em cavidades.
Acompanhe nossas futuras postagens para conhecê-los.
Caverna | Tipo | Alt (m) | Localidade |
Mandacaru | Caverna | 771 | Cachoeira |
João da Venda | Caverna | 893 | Mocororô |
Vaca Morta-Paleotoca | Caverna | 895 | Mocororô |
Córrego da Limeira | Caverna | 891 | Pindaíba |
Lajedo Redondo-Paleotoca | Caverna | 953 | Pindaíba |
Rochedo | Caverna | 818 | Pindaíba |
Odila II | Caverna | 899 | Rib. dos Cavalos |
Odila-Paleotoca | Caverna | 897 | Rib. dos Cavalos |
Zé Paraíba | Caverna | 936 | Rib. dos Cavalos |
João da Venda 1 | Abrigo | 899 | Mocororô |
João da Venda 2 | Abrigo | 893 | Mocororô |
João da Venda 3 | Abrigo | 896 | Mocororô |
João da Venda 4 | Abrigo | 898 | Mocororô |
João da Venda 5 | Abrigo | 901 | Mocororô |
João da Venda 6 | Abrigo | 897 | Mocororô |
João da Venda 7 | Abrigo | 906 | Mocororô |
João da Venda 8 | Abrigo | 916 | Mocororô |
Cânion da Forquilha 1 | Abrigo | 722 | Cachoeira |
Cânion da Forquilha 2 | Abrigo | 726 | Cachoeira |
Cânion da Forquilha 3 | Abrigo | 727 | Cachoeira |
Córrego da Limeira 1 | Abrigo | 901 | Rib. dos Cavalos |
Córrego da Limeira 2 | Abrigo | 993 | Rib. dos Cavalos |
Vale do Lajedo | Abrigo | 686 | Cór. dos Porcos |
A grande quantidade de cavidades registradas nas litologias ferruginosas na região da pesquisa até junho de 2019 nos permitiu propor maior potencialidade de ocorrência do que aquela prevista originalmente no Mapa de Potencialidade de Ocorrência de Cavernas no Brasil, elaborado por Jansen et al, 2012 (figura 9).
Com base na hipótese de que a litologia Metadiamictito Ferruginoso tem potencial muito alto para formação de cavidades, submetemos um resumo expandido ao Congresso Brasileiro de Espeleologia (35º CBE, Carmo et al, 2019), onde também pudemos apresentar um poster.
Partindo do mapa de potencialidade de ocorrência de cavernas, no qual o geossistema do Vale do Rio Peixe Bravo tem potencial médio, apresentamos evidências de que as rochas ferruginosas do local contêm maior potencial de ocorrência de cavidades do que o previsto pelo modelo de Jansen et al (2012) (Figura 10).
Acesse o resumo expandido submetido ao Congresso Brasileiro de Espeleologia.
http://www.cavernas.org.br/anais35cbe/35cbe_388-400.pdf
Com a pesquisa desenvolvida durante o ano de 2019, passamos a contar com 42 cavidades naturais subterrâneas registradas no geossistema ferruginoso do Vale do Rio Peixe Bravo. Isto representa um incremento de 27% na quantidade de cavernas conhecidas na área pesquisada. Se somarmos também os abrigos, passamos a um aumento de 69% na quantidade de feições espeleológicas na região, totalizando 56 feições caracterizadas . Estes resultados demonstram a validade da hipótese inicial, reiterando o fato de que o metadiamictito ferruginoso possui potencial muito alto de ocorrência de cavernas.
Como pode ser observado nos mapas anteriormente apresentados, ainda restam diversas áreas com lacunas de cavidades e/ou prospecções sistemáticas. Tais lacunas continuarão a ser exploradas durante o ano de 2020, visando aumentar a robustez da proposta de alteração do potencial de ocorrência de cavernas para a região pesquisada.
Referências Bibliográficas
CARMO, F.F., CARMO, F.F., SALGADO, A.A.R. & JACOBI, C.M. 2011a. Novo sítio espeleológico em sistemas ferruginosos, no vale do rio Peixe Bravo, norte de Minas Gerais, Brasil. Espeleo-Tema. vol.22, n.1, p.25-39. Disponível em: < http://www.cavernas.org.br/espeleo-tema/espeleotema_v22_n1_025-039.pdf>.
CARMO, F.F., CARMO, F.F., BUCHMANN, F.S.C., FRANK, H.T. & JACOBI, C.M. Primeiros registros de paleotocas desenvolvidas em formações ferríferas, Minas Gerais, Brasil. Congresso Brasileiro de Espeleologia. 31, Ponta Grossa. Anais. Ponta Grossa, 2011b. p.531-540. Disponível em: <http://www.cavernas.org.br/anais31cbe/31cbe_531-540.pdf>.
CARMO, F.F. Novo Polo para Conservação em Geossistema Ferruginoso na Região do Rio Peixe Bravo, Norte de Minas Gerais. 2012. 116p. Dissertação (Mestrado em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre). Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte.
CARMO, F.F.; CAMPOS, I.C.; CARMO, F.F. & TOBIAS-JUNIOR, R. 2015. O Vale do Peixe Bravo: área prioritária para a conservação dos geossistemas ferruginosos no norte de Minas Gerais. In: CARMO, F.F.; KAMINO, L.H.Y. Geossistemas ferruginosos do Brasil: áreas prioritárias para conservação da diversidade geológica e biológica, patrimônio cultural e serviços ambientais. Belo Horizonte: 3i Editora, p. 497-520.
CARMO, F.F.; CAMPOS, I.C.; KAMINO, L.H.Y. 2017. Patrimônio Ambiental e Cultural no Vale do Rio Peixe Bravo. In: CARMO, F.F.; KAMINO, L.H.Y. O Vale do Rio Peixe Bravo: ilhas de ferro no sertão mineiro. Belo Horizonte: 3i Editora, p. 14-27.
CARMO, F.F. et al. Contribuição para atualização do mapa de potencialidade de ocorrência de cavernas: estudo de caso do Vale do Rio Peixe Bravo, Minas Gerais, Brasil. In: ZAMPAULO, R. A. (org.) CONGRESSO BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA, 35, 2019. Bonito. Anais… Campinas: SBE, 2019. p.388-400. Disponível em: http://www.cavernas.org.br/anais35cbe/35cbe_388-400.pdf, acesso em 09/01/2019.
JANSEN, D.C.; CAVALCANTI, L.F.; LAMBLÉM, H.S. Mapa de Potencialidade de Ocorrência de Cavernas no Brasil, na Escala 1:2.500.000. Revista Brasileira de Espeleologia-RBEsp, v.2, nº1, 42-57, 2012.
TOBIAS JUNIOR, R.. Arqueologia no Vale do Rio Peixe Bravo: primeiras abordagens. In: Flávio Fonseca do Carmo; Luciana Hiromi Yoshino Kamino. (Org.). O Vale do Rio Peixe Bravo: ilhas de ferro no sertão mineiro. 1ed.Belo Horizonte: 3i, 2017, v. , p. 48-79.