Os eventos ocorridos em Belo Horizonte neste mês de janeiro nos levam a um questionamento: por que a cidade teve tantas enchentes, sendo que quase não há rios nela? O engano está em pensar que Belo Horizonte não possui rios, na verdade a rede que corta a cidade é bastante densa, porém invisível na maioria das regiões.Antes da cidade se instalar, tínhamos os rios correndo em seu leito natural; cabeceiras e encostas protegidas por vegetação, entre outros elementos naturais. As bacias hidrográficas de Belo Horizonte são: Bacia do Ribeirão Arrudas, Bacia do Ribeirão Onça/Izidora e Bacia do Córrego do Borges/Espia (Figura 1). Mas o que é uma bacia hidrográfica?
A bacia hidrográfica, como sugere o nome, é uma região para a qual as águas escoam e vão parar nos leitos de seus rios, no ponto mais baixo da bacia. Assim, as águas das chuvas, naturalmente, vertem para as três principais bacias da região.
História de Belo Horizonte
Belo Horizonte é uma cidade planejada e foi construída nesta região, principalmente, devido à disponibilidade hídrica. A região é cercada por serras e nascentes, que drenam para dentro da cidade.
No início, a cidade foi instalada dentro da Avenida do Contorno (Figura 2), e as grandes avenidas ainda mantinham seus cursos d’água expostos, como é o caso das Avenida Prudente de Moraes, dos Andradas e Professor Moraes.
Com o tempo, a cidade foi expandida, várias encostas foram ocupadas e os rios, em sua grande maioria, canalizados. A canalização dos rios (Figura 3), principalmente a partir da década de 1950, limitou as calhas dos rios, o que diminui a capacidade de absorção das águas das chuvas e aumenta a velocidade de escoamento.
Isso ainda é incrementado pelos efeitos da impermeabilização do solo, consequente da urbanização, que aumenta o escoamento superficial, e à retirada de vegetação das encostas, que aumenta a quantidade de sedimentos carreados (Figura 4). Assim, os rios estão cada vez mais sobrecarregados, o que gera os transbordamentos, e consequentemente, as enchentes. O grande volume de chuvas – que é sim inesperado, já que a média para o mês é cerca de três vezes menor que o registrado até o momento –, faz com que os transbordamentos fiquem mais evidentes. Especialmente quando ocorrem em regiões não periféricas da cidade.