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Paradoxos de conservação

Em Março de 2020, pesquisadores do Instituto Prístino escreveram um artigo¹ discutindo o alto potencial de danos socioambientais em Minas Gerais associados a uma das maiores concentrações mundiais de barragens de rejeitos inseridas em dois hotspots globais: o Cerrado e a Mata Atlântica. Um Hotspot² caracteriza uma determinada região que abriga no mínimo 1.500 espécies de plantas endêmicas (!) e que já tenha ocorrido destruição em mais de 70% da sua vegetação original (!!), portanto representam áreas prioritárias para o desenvolvimento de ações de conservação e recuperação ambiental.

Em nosso artigo, identificamos um total de 218 barragens que juntas acumulam custos e passivos ambientais representados por 2,24 bilhões de m³ de rejeitos e resíduos industriais (Fig. 1). Após dois dos maiores desastres ambientais ocorridos no Brasil – rompimentos das barragens de Fundão (2015) e em Brumadinho (2019), a situação de risco socioambiental ainda permanece crítica em Minas Gerias. Atualmente a Agência Nacional de Mineração (setembro/2020)³ informou que 42 barragens em Minas Gerais estão interditadas por não enviarem ou não atestarem a Declaração de Condição de Estabilidade, documento obrigatório que deve ser elaborado pelo empreendedor (ANM 2017). Minas Gerais é o estado que concentra a maior situação de risco por conter 94% das barragens interditadas no Brasil.

Figura 1 – Volume total armazenado nas 218 barragens de rejeitos, conforme dados da Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB/ANM), Minas Gerais. Adaptado de Kamino et al. (2020)¹.

Em nosso trabalho, apresentamos uma visão geral da sobreposição espacial (geolocalização) entre áreas protegidas, áreas prioritárias para a conservação, barragens de rejeitos e suas áreas de influência. Você pode consultar mais detalhes sobre definições de áreas protegidas e áreas prioritárias no Quadro 1.

Quadro 1 – Definição dos tipos de Áreas Prioritárias para a Conservação e de Áreas Protegidas existentes em Minas Gerais. Adaptado de Kamino et al. (2020)¹.


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Para manter a gestão e manutenção do Atlas Digital – que inclui o armazenamento das camadas espaciais, a licença do software e a dedicação da equipe técnica – contamos com a colaboração de nossos usuários. Caso tenha interesse em realizar uma doação em qualquer valor, acesse https://www.institutopristino.org.br/faca-uma-doacao/ para saber mais.


¹ Kamino, L.H.Y., Pereira, E.O. & do Carmo, F.F. 2020. Conservation paradox: Large-scale mining waste in protected areas in two global hotspots, southeastern Brazil. Ambio 49: 1629–1638. https://doi.org/10.1007/s13280-020-01326-8. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s13280-020-01326-8

² Hotspots revisitados, Conservação Internacional. Disponível em: https://www.conservation.org/docs/default-source/brasil/HotspotsRevisitados.pdf

³ Agência Nacional de Mineração, setembro de 2020. Disponível em: https://www.gov.br/anm/pt-br/assuntos/barragens/declaracao-de-condicao-de-estabilidade-dce/resumo-campanha-entrega-dce-setembro-2020/view