Os levantamentos e diagnósticos espeleológicos já realizados no geossistema do Vale do Rio Peixe Bravo resultaram na caracterização e registro de dezenas de cavidades na região. Algumas podem ser consideradas inéditas para a ciência, devido à sua importância paleontológica. Outras demonstraram um rico patrimônio histórico/cultural associado, também inédito.
O Diagnóstico arqueológico desenvolvido no Vale do Rio Peixe Bravo nos anos de 2016 e 2017 já permitiu caracterizar elementos singulares do Patrimônio Cultural, especialmente sítios arqueológicos rupestres pré-históricos em abrigos e cavidades ferruginosas. Permitiu também obter informações orais acerca da passagem da Coluna Miguel Costa-Prestes na região (Tobias Jr. 2017).
Os 12 sítios arqueológicos anteriormente caracterizados na bacia do rio Peixe Bravo, dos quais quatro são pré-históricos e os demais, históricos (Figura 1), foram identificados por meio de levantamentos pontuais de campo, definidos conforme a ocorrência de informações orais, dados secundários e a existência de indicadores geoarqueológicos favoráveis. Mesmo que os levantamentos já realizados tenham sido incipientes, em relação à área de abrangência do sistema ferruginoso, foi possível estabelecer o potencial arqueológico da região para a ocorrência de sítios rupestres pré-históricos e outros relacionados ao conflito armado.

Tal potencial evidenciou a necessidade de se aprofundar o levantamento já realizado, com base na premissa de que os abrigos sob rocha, independentemente da litologia, são locais de uso e ocupação por parte dos seres humanos, seja durante o período histórico ou pré-histórico. Com base nisso, propomos que a frequência de sítios arqueológicos rupestres sob abrigo na região da pesquisa é única em nível nacional, ao menos. Desta hipótese decorreu a necessidade da continuidade do diagnóstico arqueológico não interventivo, a fim de ampliar a amostra de cavernas vistoriadas, no que tange ao patrimônio arqueológico e a sua eventual caracterização como sítio arqueológico.
O objetivo geral perseguido, compartilhado com a prospecção espeleológica, foi o de ampliar a amostra de abrigos, cavidades e de sítios arqueológicos neles inseridos. Como objetivo específico principal, estabeleceu-se a necessidade de aumentar a amostra de sítios e grafismos rupestres conhecidos na área de estudo;Os sítios arqueológicos em cavidades foram caracterizados independentemente da tipologia dos vestígios identificados.
Esta caracterização permitiu registrar as particularidades das feições espeleológicas identificadas e suas relações com o conjunto de elementos do registro arqueológico existentes em cada local e com a paisagem envolvente (Prous, 1992).
No caso da arte rupestre, no momento da sua identificação foram feitos registros gerais e alguns de detalhes de modo a evidenciar as particularidades e recorrências observadas, a variabilidade, aspectos tecnológicos e gestuais que poderão ser explorados em fase posterior da pesquisa.
Sítios Arqueológicos Identificados
As prospecções realizadas resultaram na identificação de dois sítios arqueológicos em cavidades naturais subterrâneas, ambas localizadas na localidade de Pindaíba, na microbacia do córrego da Limeira. A tabela a seguir traz os nomes dos sítios arqueológicos e os tipos de vestígios identificados em seus domínios.
Tabela 1 – Sítios Arqueológicos em cavidades identificados durante as prospecções
Sítio Arqueológico | Alt (m) | Tipo de elemento do registro arqueológico |
---|---|---|
Caverna Córrego da Limeira | 891 | Gravuras, pinturas rupestres |
Caverna do Lajedo Redondo | 953 | Empilhamento de blocos rochosos |
Sítio Arqueológico Caverna Córrego da Limeira
O sítio localiza-se em um afloramento rochoso ferruginoso na margem esquerda do Córrego da Limeira, no terço médio da vertente, a menos de 300 metros da cabeceira e a cerca de 130 metros a leste da Caverna do Lajedo Redondo. Caracteriza-se como uma área abrigada a partir da qual se desenvolve um conduto subterrâneo. Possui gravuras e pinturas rupestres além de material lítico lascado (ver figuras abaixo). Não foram realizadas quaisquer análises sistemáticas do registro arqueológico observado. Os vestígios deste sítio, pela tecnologia empregada e evidências tafonômicas observadas, são do período pré-histórico.


A partir da parede na parte central da área abrigada desenvolve-se uma cavidade baixa (cerca de 50 cm de altura) com 3 x 2 metros e com piso interno suavemente inclinado para norte e sul, sendo a sua porção central a mais alta. O interior da cavidade é baixo, com teto inclinado e piso sedimentar areno-siltoso marrom-claro (Figura 4). Observam-se cascalhos e blocos rochosos mesclados ao estrato superficial. Foram observados alguns fragmentos rochosos lascados e um pequeno bloco em quartzo leitoso que foi lascado durante a pré-história, caracterizando material lítico arqueológico (Figura 5).


Sítio Arqueológico Caverna do Lajedo Redondo
O sítio localiza-se em um afloramento rochoso de canga, no contato com o metadiamictito ferruginoso, na margem direita do Córrego da Limeira, no terço superior da vertente, a menos de 200 metros da cabeceira e a cerca de 130 metros a oeste da Caverna do Córrego da Limeira. E uma cavidade que se desenvolve na direção sudoeste, por cerca de 20 metros, e caracteriza uma paleotoca, devido à presença de icnofósseis nas suas paredes.
Em sua entrada, observa-se uma rampa de blocos desabados do antigo teto da cavidade, que mergulha no sentido sudoeste (figura 6). Após descer por este cone chega-se a um amplo conduto principal, com partes escuras e de penumbra, com até 4,5 de altura e quase 20 metros de desenvolvimento, teto irregular e um conduto lateral. Neste conduto observam-se icnofósseis nas paredes sul e norte, assim como na entrada do conduto lateral. O piso sedimentar é silto-arenoso, cinza, pulverulento e levemente inclinado para o interior da cavidade.

Sobre o piso interno da caverna, há diversos empilhamentos de blocos rochosos, resultados da ação humana pretérita, em pontos do piso ou ao longo do sopé das paredes (figura 7). Tal ação provavelmente estava relacionada à gestão do espaço da cavidade para atividades humanas ainda não conhecidas. Não foram realizadas quaisquer análises sistemáticas do registro arqueológico observado. As informações coletadas não forneceram dados suficientes para estimar o período de formação dos vestígios.

O total de sítios arqueológicos caracterizados no geossistema ferruginoso do Vale do Rio Peixe Bravo passa a ser quatorze, sendo cinco deles, detentores de pinturas e/ou gravuras rupestres.
Se consideramos o extenso esforço amostral empreendido até o momento em prospecções espeleológicas, em contraste ao limitado levantamento arqueológico lá realizado, indica-se a existência de potencial arqueológico ainda a ser explorado, tanto em cavernas anteriormente cadastradas, quanto em novas áreas que ainda serão pesquisadas.
Por este motivo, durante o ano de 2020, os levantamentos arqueológicos continuarão em desenvolvimento juntamente com as prospecções espeleológicas. Além destes levantamentos, está prevista a realização de investigação específica visando aprofundar o conhecimento sobre a arte rupestre regional, uma vez que os sítios rupestres já identificados são singulares por ocorrerem diretamente sobre rochas ferruginosas.
Acompanhe nossas postagens durante o ano de 2020 para conhecer o andamento destas pesquisas!
Referências bibliográficas:
PROUS, André . Arqueologia Brasileira. 2. ed. Brasília: Editora da UNB, 2003. v. 1. 613p
TOBIAS JUNIOR, R. Arqueologia no Vale do Rio Peixe Bravo: primeiras abordagens. In: Flávio Fonseca do Carmo; Luciana Hiromi Yoshino Kamino. (Org.). O Vale do Rio Peixe Bravo: ilhas de ferro no sertão mineiro. 1ed.Belo Horizonte: 3i, 2017, v., p. 48-79.